Comportamento indesejado deve ser analisado corretamente

Data: 21/12/2010 / Fonte: Revista Proteção

Ilustração: Beto Soares/ Revsita Proteção

O processo de gerenciamento de risco é multidisciplinar e uma das abordagens se refere ao comportamento humano e seus diferentes tipos de erros. Os erros humanos não podem ser estudados isoladamente das condições onde eles ocorrem. Se as características da tarefa e do ambiente forem organizadas de modo que as pessoas possam detectar e cor­rigir imediatamente os seus comporta­mentos inadequados, a frequência dos er­ros tende a diminuir. Cada decisão, gesto ou pensamento implica na possibilidade de erros e é preciso aceitar que eles podem ocorrer.


O erro humano é tratado frequentemente como uma coleção uniforme de atos indesejados (popularmente chamados "atos inseguros"), normalmente considerados apenas nos níveis operacio­nais e de execução de tarefas. No entanto, erros de naturezas di­ver­sas ocorrem em diferentes níveis da organização e requerem diferentes medidas preventivas e corretivas. Entender essas diferenças é fundamental para um ge­ren­ciamento correto e direcionado de suas causas.

Quando se pretende gerenciar erros, é preciso antes considerar suas características. Erros não são intrinsecamente prejudiciais, pois podem contribuir para o de­senvolvimento das tarefas e para a melho­ria contínua dos sistemas organizacionais. Além disso, não é possível mudar as condições humanas, portanto deve-se mudar as condições de trabalho nas quais as condições humanas estão inseridas.

Considerando que um erro é constituído de duas partes: um estado mental (associado a diversos fatores intrínsecos ao ser humano e que em muitos casos é ­difícil interferir) e uma situação (um fator contribuinte para um desvio), para que haja um gerenciamento eficaz é preciso analisar essas duas vertentes simultaneamente (ao invés de simplesmente atribuir culpa a alguém).

Outra característica que precisa ser a­na­lisada quando se pretende gerenciar er­ros é que os melhores funcionários podem cometer os piores erros, pois ninguém es­tá imune. Nesse sentido, é preciso atuar em toda a cadeia e em todos os níveis hie­rárquicos existentes dentro da organização. Por trás dos erros, muitas vezes há um his­tórico e isso justifica a importância de se investigar suas causas para aprender com elas e evitar a reincidência.

Autores: Alessandra Isabella Sampaio Martins, Sérgio Médici de Eston, Reginaldo Pereira Lapa e Wilson Siguemasa Iramina.

Estados terão que apresentar mapeamento de áreas de risco

Data: 03/12/2010 / Fonte: Agência Brasil
Ilustração: Beto Soares / Estúdio Boom

Brasília/DF - O Diário Oficial da União publicou na quinta-feira, 2, a lei que trata do Sistema Nacional de Defesa Civil e das ações voltadas para a recuperação de áreas em situação de calamidade pública. O sistema passará a ser regido por lei federal e reforçará o apoio da União a estados, municípios e Distrito Federal em casos de desastres.

Os estados e o Distrito Federal deverão encaminhar anualmente ao governo federal o mapeamento de riscos e ameaças, com informações atualizadas das unidades responsáveis pelas ações de defesa civil.

Um dos destaques da lei é a possibilidade de o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e os ministérios da Defesa e do Desenvolvimento Social intervirem em ações de recuperação e assistência aos estados sempre que houver solicitação.

Para acelerar o apoio às áreas afetadas, os prefeitos e governadores poderão pedir ajuda ao Dnit e aos batalhões de Engenharia do Exército na recuperação provisória de estradas em locais isolados, o que antes demandava contratos emergenciais e processos burocráticos de licitação.

AM: Petrobras simula vazamento de óleo no Rio Negro

Data: 03/12/2010 / Fonte: iG
Foto: Divulgação/Petrobras
Manaus/AM - Nesta quinta-feira, 2, um navio da Transpetro encalhou no Rio Negro, no Estado do Amazonas, e despejou 800 mil litros de carga. Foram mobilizados recursos de São Paulo e Bahia para conter o vazamento, que chegou à encosta e poderia causar graves danos ambientais. Poderia ser, em vez de óleo, a substância não fosse pipoca. O simulado, feito pela Petrobrás em parceria com a Marinha do Brasil, e com supervisão do Ibama, testou a capacidade da empresa de mobilizar equipes nacionais e internacionais para conter vazamentos.

Técnicos da empresa explicaram a escolha da pipoca: assim como o petróleo, ela não se mistura com a água. Além disso, como foi feita sem óleo, não polui. A diferença é que, se fosse o material poluente, dispersantes químicos seriam usados e causariam dano ambiental.

Ao ser informado do vazamento, um técnico realizou a primeira vistoria para ter dimensão do material vazado e do risco ambiental. Se o vazamento fosse pequeno - grosso modo, até 8 mil litros -, a unidade local daria conta da reação e dispensaria alarmes maiores. Como ultrapassou esse montante e ameaçava a costa do rio, equipes de outras regiões foram acionadas.

A Petrobras mobilizou cerca de 30 agentes para conter o vazamento. Eles monitoraram o comportamento da mancha via satélite, articularam equipes, contiveram o material despejado com cercas de plástico e borracha, sugaram o óleo para barcos com um equipamento chamado skimmer, e separaram a água do material poluente em terra. Um equipamento que permite desenvolver trabalhos de contenção à noite a partir de imagens captadas por infravermelho foi testado e aprovado.

A convite da Petrobras, o iG acompanhou a experiência. No entanto, as esperadas três toneladas de pipoca - equivalentes aos 800 metros cúbicos de petróleo - que manchariam de branco o Rio Negro não foram totalmente lançadas. "Com o risco de chuva, interrompemos as atividades", disse o gerente regional de contingência da Petrobras, Márcio Dertoni, à bordo de um navio de observação. "Muito menos que o previsto foi utilizado", disse, para frustração dos observadores.

O simulado foi realizado em paralelo ao Mobex, um encontro internacional sobre vazamento de óleo e derivados. Empresas de todo o mundo se reuniram em Manaus para afinar estratégias de cooperação em casos de grandes vazamentos, como o da BP, ocorrido em abril, no Golfo do México. Neste teste, recursos internacionais foram trazidos como se fosse uma situação real: vindos dos EUA, tiveram que obter visto ao passar pela alfândega.

A reação a um vazamento real deve durar poucas horas, mas este simulado se estende até sexta-feira e terá cinco relatórios. Trata-se de uma exibição para grupos internacionais, especialistas e jornalistas, além de uma oportunidade para novos profissionais da empresa acompanharem o trabalho.

O gerente regional Dertoni explica que um vazamento de 800 metros cúbicos de petróleo é considerado grande e, dependendo do risco ambiental, requereria cooperação de equipes de outras regiões do País e até internacionais. "Temos 10 Centros de Defesa Ambiental (CDAs) no País, com cerca de 20 pessoas prontas para agirem a qualquer momento", disse. No teste, os CDAs de São Paulo e Bahia foram acionados. O simulado se insere no contexto prévio à exploração do pré-sal e serve de base para a reação da empresa a um possível acidente de grande escala.

Nova NR 12 traz proteção específica para diferentes áreas

 Data: 06/12/2010 / Fonte: Revista Proteção
Ilustração: Beto Soares/Revista Proteção
A nova NR 12 promete revolucionar a proteção dos trabalhadores em relação às máquinas. Uma primeira olhada sobre o conteúdo já chama atenção pelo tamanho. Enquanto a versão anterior contava com um ­texto base de seis itens principais e mais dois anexos, um para mo­tosserras e ou­tro para cilindros de massa, a nova tem texto base com 19 itens principais, três apêndices, sete anexos e um ­glossário. São 14.500 caracteres, um total de cin­co pá­ginas, contra mais de 230 mil letras, o que proporcional­mente dará cerca de 80 páginas para a nova norma. Dessa forma, traz explicações bem mais detalhadas sobre ins­tala­ções e dispositivos de segurança.

"Agora é outro mundo, com explicação muito mais clara sobre o que é necessário. Uma evolução drástica do texto em si e com a criação de um grupo de trabalho permanente que vai discutir melhorias. A situação que tínhamos antes era de uma norma valendo de 1978 até 2010. A tecnologia avançou, e a norma trazia algo de 32 anos atrás. Se atualizou o texto e se coloca a ­oportunidade de uma atualização contínua", avalia o engenheiro de segurança João Baptista Beck Pinto, que coordena um GT de Saúde, Segurança do Trabalho e Meio Ambiente da ABIMAQ (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), no Rio Grande do Sul.

Criada pela Portaria 3214, de 08 de junho de 1978, a NR 12 sofreu uma primeira alteração em 1983. Em 1994, a norma ganhou o anexo de motosserras e, em 1996, o de cilindros de massas. Mais duas pe­quenas mudanças ocorreram em 1997 e em 2000. Já a publicação da nova NR 12 prevista para ocorrer ainda em 2010 traz uma transformação total, alcançada de forma tripartite. O nome da norma também mudou. Agora chama-se NR 12 - Segurança no Trabalho em Máquinas e Equipamentos. "O mais importante da nova versão são as informações mínimas para que a máquina seja concebida de forma se­gura. Queremos a médio prazo uma no­va geração de máquinas", afirma a coorde­nadora do GTT da NR 12, a auditora ­fiscal da SRTE/RS, Aida Becker.

Já para os trabalhadores, há avanços em to­da a concepção da norma. "Modernizada, buscou contemplar a maioria dos dife­rentes modelos de máquinas e equipamentos inseridos nos distintos processos de trabalho. Ela se ateve aos rumos da glo­balização, com visão atual alinhada às nor­mas - nacionais e internacionais - mais re­centes; e vislumbrou proteger, de fato, os envolvidos no processo de fabricação, en­­volveu compradores e usuários, e vis­lum­brou a segurança no ambiente ao redor da máquina. Em sua nova roupagem, vejo como um dos melhores trabalhos ge­rados pelo processo tripartite e dará uma no­va dimensão à Segurança do Trabalho a grande parte dos setores produtivos", analisa o técnico de segurança do Sindicato dos Meta­lúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Adonai Ribeiro.

Reportagem de Cristiane Reimberg, com colaboração de Juliano Rangel.

Alto índice de acidentalidade em frigoríficos preocupa

 Fonte: Revista Proteção
Foto: Ascom/MPT-SC
Valdirene João Gonçalves da Silva tem 40 anos e está aposentada por invalidez. Após 11 anos de trabalho em uma empresa frigorífica de Forquilhinha/SC, ela teve um de seus braços totalmente comprometido por uma LER/DORT adquirida ao longo desse período. Ela, que quando trabalhava chegava a desossar oito sobrecoxas de frango por minuto em jornadas que du­ravam cerca de 10 horas, foi acometida pela doença em 2005, sendo que desde então, precisa tomar morfina, de quatro em quatro horas, para suportar a dor que é constante. "Desde que adoeci, não vivo mais. Já passei por inúmeros tratamentos médicos, todos dolorosos, mas nenhum deles sanou a minha dor. Hoje sou deficiente e tenho meu braço esquerdo a­trofiado", lamenta Valdirene, que pagou um preço alto pelo descaso da empresa com as condições de saúde e segurança dos seus funcionários. "A cobrança por produção era alta demais. Se me queixava de dor, era chamada de preguiçosa. Co­mo precisava do trabalho, chegava ao limite da minha dor para conseguir dar conta do serviço", lembra.

O caso de Valdirene retrata a triste realidade do segmento de abate e de pro­ces­samento de animais para alimentação. O setor, que emprega cerca de 800 mil trabalhadores em todo o País, é responsá­vel por altos índices de acidentes e adoe­ci­mentos entre os trabalhadores. Segundo dados do INSS, nenhuma atividade econômica gerou mais acidentes e adoeci­mentos nos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais e Goiás quanto o trabalho em frigorífico nos últimos três anos. Além disso, a estatística mostra que quem realiza este trabalho tem quatro vezes mais chance de ter transtornos mentais do que alguém que atua em qualquer outro segmento.

Sistema

Na opinião do médico do Trabalho Ro­berto Ruiz, este grande índice de aciden­talidade e adoecimento na agroindústria está diretamente ligado à forma de organi­zação do trabalho. "O sistema de ­trabalho adotado pelas empresas deste segmento é extremamente prejudicial ao funcionário. Isso porque são jornadas diárias de mais de oito horas sem pausa, repetiti­vidade de movimentos, falta de equipamento de proteção e ritmo intenso de trabalho. A estrutura está errada e enquanto isso ocorrer, nada mudará", afirma Ruiz.

Atualmente, estima-se que o número de movimentos repetitivos feitos pelo trabalhador do setor esteja entre 90 e 120 movimentos por minuto, sendo que este percentual não deveria exceder o número de 25 a 33 movimentos por minuto para evitar doenças ocupacionais como as LER/DORT. De acordo com o procurador do Trabalho do Ministério Público de Santa Catarina, Sandro Eduardo Sardá, os trabalhadores acabam realizando cerca de 15 mil movimentos por jornada, o que impossibilita um mecanismo de recuperação eficiente. "As atuais condições de trabalho oferecidas nas unidades frigoríficas são absolutamente incompatíveis com a saú­de na forma mais ampla, tanto da parte física quanto da psíquica", avalia Sardá.

Além do ritmo excessivo, das longas jor­nadas e dos fatores antiergonômicos co­mo, por exemplo, mobiliário inadequado, repetitividade e monotonia, o médico do Trabalho Roberto Ruiz ressalta que a atividade expõe o trabalhador a fatores de ris­co excedentes. "Eles convivem com va­riações bruscas de temperatura, umidade e ambientes ruidosos, o que vejo como um risco adicional ao já extenuante trabalho", constata.