Ponto gatilho é um problema pouco estudado no Brasil, apesar de ser uma entidade muito prevalente. A associação com o DME (Distúrbio Músculo-esquelético) e DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) existe e, mesmo assim, a relação entre esses assuntos é pouco citada por médicos em trabalhos científicos.
O ponto gatilho possui alguns padrões de acometimento conhecidos e, em decorrência disso, pode-se afirmar que ele é responsável por grande parte dos pacientes com dor crônica, pacientes com doenças do trabalho, esportistas e alguns casos de pessoas com dores agudas intensas.
Ponto gatilho, tradução de Trigger Point, consiste em um ponto irritável, associado a um nódulo hipersensível, palpável, localizado em uma faixa tensa do músculo, que pode gerar dor referida. Os músculos mais acometidos são os músculos posturais do pescoço, da cintura escapular e da cintura pélvica. Os músculos afetados tornam-se, geralmente, mais encurtados e enfraquecidos.
Esses nódulos hipersensíveis podem acometer um ou mais músculos e o tecido conjuntivo relacionado, podendo culminar em limitação de movimento, dor, fraqueza muscular e até disfunções autonômicas. Eles geralmente são localizados nas partes dos músculos que se encontram mais predispostos ao estresse mecânico, perto, constantemente, das origens e inserções musculares.
Pontos gatilho podem ser localizados não apenas em músculos, mas em diversas outras estruturas. Nesse sentido, um ponto gatilho miofascial deve ser diferenciado do tipo cutâneo, ligamentoso, periosteal ou qualquer ponto gatilho que não seja muscular.
Vários fatores podem estar associados ao surgimento da lesão. Os pontos gatilho podem ser ativados de forma direta ou indireta. A forma direta ocorre quando há fadiga de abuso, trauma de impacto direto, sobrecarga aguda e radiculopatia. A causa mais comum da forma direta de ativação do ponto gatilho é a sobrecarga aguda. Já a forma indireta ocorre quando um ponto gatilho pré-existente ativa, em um outro local, uma nova lesão. Nessa forma ainda podem ser citadas doença visceral, distúrbio emocional e artrite articular.
Diversos tratamentos são documentados na literatura fazendo referência ao ponto gatilho. Entre eles encontram-se a massagem fisioterápica, estimulação elétrica transcutânea, calor úmido, crioterapia, infiltração anestésica (com procaína ou lidocaína), ondas curtas, ultrassom e uso de medicação miorrelaxante de ação central.
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Ponto gatilho recebe esse nome porque é capaz de gerar dor, quando comprimido, em um outro local do corpo. Essa dor é denominada dor referida. As regiões acometidas com dor referida podem ser várias: músculos, articulações, gengiva, dentes, ouvidos, etc. A estimulação dos pontos gatilho pode levar não apenas ao aparecimento da dor, mas também sensibilidade à palpação de estruturas profundas, sensibilidade ao calor ou ao frio e ao surgimento de alguns sinais como lacrimejamento e salivação ipsilaterais ao ponto.
Esses pontos estão intimamente relacionados à síndrome de dor miofascial, sendo importante a sua identificação para a realização do diagnóstico dessa comorbidade (presença ou associação de duas ou mais doenças no mesmo paciente). A síndrome é extremamente comum, mas possui incidência contraditoriamente baixa. Isso se deve ao fato de os médicos estarem realizando diagnósticos imprecisos e equivocados. Nesse sentido, um diagnóstico normalmente feito é o de fibromialgia.
O ponto gatilho miofascial é um nódulo que se forma em algum ponto específico do músculo esquelético e que tem um baixo limiar para estímulos, respondendo, na maioria das vezes, de forma dolorosa. Essa resposta também pode se manifestar como alterações motoras do músculo ou grupo muscular atingido, ou ainda como disfunções autonômicas por ativação simpática.
Os pontos gatilho podem ser classificados em latentes ou ativos. Um ponto é dito ativo quando ele está provocando os sintomas de forma constante. Com repouso adequado e a cessação dos fatores estimulantes, ele pode se reverter espontaneamente para um ponto latente.
Os pontos latentes aumentam a tensão muscular e podem diminuir a amplitude de movimento, mas não provocam dor se não forem estimulados ou comprimidos e podem não ser reconhecidos pelo paciente até se tornarem ativos por alguma causa. Esses pontos podem persistir por anos após uma lesão e predispõem a crises dolorosas agudas, tornando-se ativos após um alongamento ou esforço excessivo, um trauma direto como queda ou torção ou ainda por estresse emocional.
Trabalhadores braçais, que executam tarefas de força diariamente, são menos suscetíveis a desenvolverem síndromes miofasciais e pontos gatilho do que os sedentários. Há ainda os pontos chamados "satélites", que são pontos de menor dor localizados ao redor dos pontos primários.
Os pontos gatilho podem desencadear sintomas de ordem motora, sensorial e autonômica. Os aspectos motores dos pontos gatilho ativos e latentes são: disfunção motora, fraqueza, rigidez e restrição dos movimentos. Os aspectos sensoriais incluem dor local ou referida em algum sítio distante, e sensibilização periférica e central. Na sensibilização periférica ocorre um aumento da responsividade dos nociceptores nos terminais nervosos periféricos, enquanto que na central há um aumento da excitabilidade dos neurônios do sistema nervoso central. Isso pode resultar em alodinia e hiperalgesia. Os aspectos autonômicos podem envolver, entre outros, vasoconstrição, transpiração, piloereção, coriza, lacrimejamento e distúrbios proprioceptivos.
Alguns dos locais mais frequentemente acometidos por pontos gatilho são a região cervical e a cintura escapular, especialmente os músculos trapézio, escaleno, o esternocleidomastoídeo e o elevador da escápula, cintura pélvica e musculatura mastigatória. No trapézio, por exemplo, podem ser encontrados bilateralmente seis diferentes pontos gatilho miofasciais, distribuídos nas fibras superiores, médias e inferiores do músculo, cada qual com seu padrão de dor referida.
Autores: Rui B. Macedo, Ruan K. Mezzomo, Vinícius B. Seleme, Marina L. W. Cerqueira, Claudiomiro Foschiera e Joel P. Gequelin
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