Pontos gatilho devem ser avaliados por médico do Trabalho

Data: 18/10/2010 / Fonte: Revista Proteção

Ponto gatilho é um problema pouco estudado no Brasil, apesar de ser uma entidade muito prevalente. A associação com o DME (Distúrbio Músculo-esquelético) e DORT (Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho) existe e, mesmo as­sim, a relação entre esses assuntos é pouco citada por médicos em trabalhos científicos.
O ponto gatilho possui alguns padrões de acometimento conhecidos e, em decor­rência disso, pode-se afirmar que ele é responsável por grande parte dos pacientes com dor crônica, pacientes com do­enças do trabalho, esportistas e alguns ca­sos de pessoas com dores agudas ­intensas.
Ponto gatilho, tradução de Trigger Point, consiste em um ponto irritável, associado a um nódulo hipersensível, palpável, localizado em uma faixa tensa do músculo, que pode gerar dor referida. Os músculos mais acometidos são os músculos posturais do pescoço, da cintura esca­pular e da cintura pélvica. Os músculos afetados tornam-se, geralmente, mais en­curtados e enfraquecidos.
Esses nódulos hipersensíveis podem acometer um ou mais músculos e o tecido conjuntivo relacionado, podendo culminar em limitação de movimento, dor, fra­queza muscular e até disfunções auto­nômicas. Eles geralmente são localizados nas partes dos músculos que se encontram mais predispostos ao estresse mecânico, perto, constantemente, das ori­gens e inserções musculares.
Pontos gatilho podem ser localizados não apenas em músculos, mas em diversas outras estruturas. Nesse sentido, um ponto gatilho miofascial deve ser diferenciado do tipo cutâneo, ligamentoso, pe­rios­teal ou qualquer ponto gatilho que não seja muscular.
Vários fatores podem estar associados ao surgimento da lesão. Os pontos gatilho podem ser ativados de forma direta ou indireta. A forma direta ocorre quando há fadiga de abuso, trauma de impacto direto, sobrecarga aguda e radiculo­pa­tia. A causa mais comum da forma direta de ativação do ponto gatilho é a sobrecarga aguda. Já a forma indireta ocorre quando um ponto gatilho pré-existente ativa, em um outro local, uma nova lesão. Nessa forma ainda podem ser citadas doença visceral, distúrbio emocional e artrite articular.
Diversos tratamentos são documentados na literatura fazendo referência ao ponto gatilho. Entre eles encontram-se a massagem fisioterápica, estimulação elétrica transcutânea, calor úmido, criotera­pia, infiltração anestésica (com procaína ou lidocaína), ondas curtas, ultrassom e uso de medicação miorrelaxante de ação central.
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Definição

Ponto gatilho recebe esse nome porque é capaz de gerar dor, quando comprimido, em um outro local do corpo. Essa dor é denominada dor referida. As regiões acometidas com dor referida podem ser várias: músculos, articulações, gengiva, dentes, ouvidos, etc. A estimulação dos pontos gatilho pode levar não apenas ao aparecimento da dor, mas também sensibilidade à palpação de estruturas profundas, sensibilidade ao calor ou ao frio e ao surgimento de alguns sinais como lacri­mejamento e salivação ipsilaterais ao ­ponto.
Esses pontos estão intimamente relacionados à síndrome de dor miofascial, sendo importante a sua identificação para a realização do diagnóstico dessa comor­bidade (presença ou associação de duas ou mais doenças no mesmo paciente). A síndrome é extremamente comum, mas possui incidência contraditoriamente baixa. Isso se deve ao fato de os médicos estarem realizando diagnósticos imprecisos e equivocados. Nesse sentido, um diagnóstico normalmente feito é o de fibro­mial­gia.
O ponto gatilho miofascial é um nódulo que se forma em algum ponto específico do músculo esquelético e que tem um bai­xo limiar para estímulos, respondendo, na maioria das vezes, de forma dolorosa. Essa resposta também pode se manifestar co­mo alterações motoras do músculo ou gru­po muscular atingido, ou ainda como dis­fun­ções autonômicas por ativação simpática.
Os pontos gatilho podem ser classificados em latentes ou ativos. Um ponto é dito ativo quando ele está provocando os sinto­mas de forma constante. Com repouso ade­quado e a cessação dos fatores estimulantes, ele pode se reverter espontaneamente para um ponto latente.
Os pontos latentes aumentam a tensão muscular e podem diminuir a amplitude de movimento, mas não provocam dor se não forem estimulados ou comprimidos e podem não ser reconhecidos pelo paciente até se tornarem ativos por alguma cau­sa. Esses pontos podem persistir por anos após uma lesão e predispõem a crises dolorosas agudas, tornando-se ativos após um alongamento ou esforço excessivo, um trauma direto como queda ou torção ou ainda por estresse emocional.
Trabalhadores braçais, que executam tarefas de força diariamente, são menos suscetíveis a desenvolverem síndromes miofasciais e pontos gatilho do que os sedentários. Há ainda os pontos chamados "satélites", que são pontos de menor dor localizados ao redor dos pontos ­primários.
Os pontos gatilho podem desencadear sintomas de ordem motora, sensorial e au­tonômica. Os aspectos motores dos pontos gatilho ativos e latentes são: disfunção motora, fraqueza, rigidez e restrição dos movimentos. Os aspectos sensoriais incluem dor local ou referida em algum sítio dis­tante, e sensibilização periférica e central. Na sensibilização periférica ocorre um aumento da responsividade dos noci­cep­tores nos terminais nervosos periféricos, enquanto que na central há um aumento da excitabilidade dos neurônios do sistema nervoso central. Isso pode resultar em alodinia e hiperalgesia. Os aspectos autonômicos podem envolver, entre outros, vasoconstrição, transpiração, pilo­ereção, coriza, lacrimejamento e distúrbios proprioceptivos.
Alguns dos locais mais frequentemente acometidos por pontos gatilho são a região cervical e a cintura escapular, especialmente os músculos trapézio, escale­no, o esternocleidomastoídeo e o ­elevador da escápula, cintura pélvica e musculatura mastigatória. No trapézio, por ­exemplo, podem ser encontrados bilateralmente seis diferentes pontos gatilho miofasciais, distribuídos nas fibras superiores, médias e inferiores do músculo, cada qual com seu padrão de dor referida.
Autores: Rui B. Macedo, Ruan K. Mezzomo, Vinícius B. Seleme, Marina L. W. Cerqueira, Claudiomiro Foschiera e Joel P. Gequelin

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