Sono é causa de muitos acidentes nos trajetos noturnos

Fonte: Revista Proteção
Foto: Divulgação NTU

O transporte rodoviário é o mais utilizado no Brasil. Segundo dados de 2005 do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), as empresas de transporte de passageiros venderam mais de um bilhão de passagens. Por outro lado, a situação de risco a que esses passageiros e trabalhadores são expostos não é exceção, mas regra. Num momento em que se discute o problema do transporte aéreo no Brasil, alerta-se para o problema do transporte rodoviário que também não está equacionado. Rodovias em condições precárias e veículos sem condições de segurança somados à problemática dos trabalhadores que atuam também em condições subumanas refletem a gravidade deste setor.

A profissão de motorista não está regulamentada ainda, embora o país tenha optado há décadas pelo transporte rodoviário em detrimento de outras estratégias nacionais. Não há regulamentação de jornada de trabalho, sequer outras orientações mínimas com relação à segurança dos trabalhadores e passageiros.

Não é difícil flagrar motoristas visivelmente sem condições de suportar uma viagem de duas ou três horas ao volante. O sono é, sem dúvida, o principal fator encontrado nos trajetos noturnos.

A relação entre sonolência excessiva e acidentes tem sido bastante estudada nos últimos anos e a literatura médica tem divulgado resultados de investigações a esse respeito. No entanto, os resultados obtidos nesses estudos ainda não permitem conclusões definitivas, considerando-se que nem todos os laudos de acidentes incluem a palavra ‘sonolência’ como causa de acidente, e que a caracterização das evidências de que esse fator tenha provocado o acidente é, na maioria das vezes, difícil de aferir. Isto se dá porque a sonolência não pode ser quantificada com um exame laboratorial rápido como, por exemplo, o que se aplica quando existe a suspeita de abuso de álcool.

Por isso, os especialistas brasileiros trabalham com números hipotéticos guiando-se pelo que existe a respeito do assunto na literatura internacional. A partir dessas referências eles acreditam que entre 25% e 30% dos acidentes que ocorrem em rodovias federais são causados por sonolência, a maioria deles, no período noturno. Considerando-se que nesse período há um volume menor de veículos circulando, o percentual é bastante elevado. A conclusão é óbvia: à noite os acidentes provocados por sonolência são mais frequentes.

De acordo com o doutor em Sociologia, José Nivaldino Rodrigues, há consideráveis evidências de que a fadiga e a sonolência contribuam para a causa de acidentes nos sistemas de transportes. “É importante salientar que geralmente a capacidade de atenção e concentração diminui em indivíduos que continuam trabalhando após terem consciência de sua fadiga. Os débitos crônicos de sono somados às cargas de trabalho intensas geram fadiga nos trabalhadores. Para driblar o sono, os motoristas rodoviários utilizam-se da ingestão de medicamentos perigosos para a saúde e que influenciam nas ocorrências de acidentes de trânsito”, afirma Rodrigues.

Autores: Renato Nunes Seara, Patrícia Lucchesi Centofanti e Eliene Corrêa Rodrigues Coelho.

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